terça-feira

fevereiro de 2008, já no brasil

15.02.08

Nesse momento me pergunto até onde as flores irão comigo?
Até quando elas estarão comigo? Por hora são o que tenho, o forro do meu corpo, o preenchimento das idéias internas.
As flores são o que sou. Vi a pasta “flores naturais” ontem. Os parques voltam à mente, os passos, as poeiras.

11.02.08

Medo do mesmo, de ir repetindo ininterruptamente os vícios que não fazem feliz, que me paralisam.
Desde as anotações finais em 28.01, os sentimentos ficaram a espera de um entendimento maior que pudesse ser traduzido em palavras simples. Não entendo ainda essa passagem. Não olho ainda o que foi feito, apenas para não concluir que o processo acabou. Ficaram as lembranças, sem dúvida, mas resgatá-las dói, toca no buraco que se formou internamente. A falta de uma cidade dentro de mim. A falta de mim estando lá. Tendo dado alguns passos mas sem formar um caminho. Ou sem perceber novas pegadas.
Comecei a desmontar o apartamento duas semanas antes. Fui desconstruindo aos poucos, para não ser brusca a interrupção do processo. Interrupção ou finalização? Não sei. O momento era inevitável, mas na prática pareceu que algo que conquistei e que me conquistou estava sendo tirado de mim. Fico feliz por todos os que até hoje foram para a Cité, mas não concebi bem a idéia de ter alguém após. Possessão.
Enfim, lá está o 1422 com um novo morador.
Será que aproveitei o que pude?
Será que fiz o que devia ter feito?
E hoje, tenho feito o meu melhor?
Cobranças. Saudades. Falta mesmo.
Existe um momento novo para construir e ele deverá ser de uma matéria existente, real, física. Meus pensamentos eu não embalo – assim, deverão ser segundo plano. Nem quero nada de volta. Quero o novo. Sei que dou conta disso, mas quero também algo que me valha a pena, além das pequenezas da vida diária.
Nos últimos dias cada momento de dormir e acordar era um encurtamento do sonho. Olhava a cortina com frestas de luz, o desenho que formava em casa, nas paredes e objetos, e sabia que estava chegando ao fim. Queria que rendesse ao máximo.
Caber tudo em duas malas, bolsas de mão. Nem sei como deu, já que vivi tanto.
O vidro que se quebrou. Aquele que continha as flores em formato circular. O vidro que se quebrou em formato pêra. Também foi só isso.
A partir do que eu construir agora vou entender melhor esses seis meses fora vivendo essa minha arte.
Desde que voltei o que mais foi é estranhar. As pessoas, as falas, as ruas, a distância do que amo. Supermercado, boulangerie, metrô. Guardo as sacolinhas plásticas, com apego. Não sei o que pode doer mais.
Falar o que foi aos que encontro não faz sentido.
Tentar ainda preencher essas folhas como eu fazia lá também não.
O silêncio às vezes me toma de assalto, ainda que palavras continuem a sair pela boca.
Quero calar e ir. Para o meu novo lugar, ainda que apenas exista em pensamento.
Já já me recomponho. E volto a compor flores em jardins.
“Por hora meu desassossego é violento. Eu marquei na chuva um nome que nunca mais li. Ele foi para mim o motivo das sombras em horas de sol intenso. Um refúgio para bocas abertas de tanto correr. O respiro e o suor corrido eram os traços deixados nos corpos feitos de ar. E embora eu não soubesse como me atravessar, subi para longe das minhas alturas, deixando os calcanhares livres sobre as pontes invisíveis. Repensando, assim me fiz do começo ao fim.”
Na Europa se é para além de simples hábitos. Se é para si mesmo. Defina-se como quiser. Seja-se.

2 comentários:

  1. Ficou liiiindo!
    Superbacana a disposição das imagens. E amo sua vocação poética.
    Beijo!

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  2. Que lindo!!
    Me senti um pouco lá com vc...
    Q saudade que deu da Cité, da nossa Paris...
    Adorei!
    besitos moça!!
    (vamos marcar um café com a Lu?!)
    PAT

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